tag:blogger.com,1999:blog-32060167542137652782024-03-08T02:15:58.530-08:00Praise meSilvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.comBlogger103125tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-70620577969945965502013-05-12T14:33:00.001-07:002013-05-12T14:33:07.829-07:00Fim do romance<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
André Reis era um nome
repetido na fileira de dominós dos livros na estante, eram sete
volumes e ela só tinha uma expectativa: o lançamento do novo
romance.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
André Reis não estava
sozinho no reino literário que Ana criara em seu apartamento. O
acompanhavam volumes nobres de cartola e bengala e até bobos da
corte, os quais ela tinha pena de expulsar da pólis.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Como não gostava de
reler livros para não perder tempo, pois tinha tantos ainda
intactos, salivava na emoção de completar sua coleção com o
próximo livro publicado: Flores mortas. Certamente um romance
brutal, trágico, pesado, como gostava que fossem e como André
gostava de escrever. Eram almas gênias.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Certo dia, Ana resolveu
comprar alguns livros em um site de venda de exemplares usados,
sebosos e ensebados. Por pura obsessão, buscou o nome André Reis.
Ao visualizar a lista teve a satisfação de perceber toda sua
coleção se completando, até que no caminho para chegar ao último
título, um obstáculo de interpôs: uma obra que não conhecia.
Conferiu a autoria. Tinha foto no site. Surpreendentemente intitulado
Último inferno. Tragicamente. Um frio percorreu sua espinha, clicou
de ansiedade no produto e fechou a compra. Assustada, levantou-se e
foi beber água. Jamais ouvira falar sobre aquele livro. Estava
errada o tempo todo! Há um livro para ser lido antes do lançamento
de Flores Mortas e isso era fantástico.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Acompanhou o pedido via
e-mail, não conseguiu se concentrar em outras leituras e trabalhava
mal, pensando no livro, em como ficara tanto tempo na ilusão de ter
sua coleção completa. André Reis era seu escritor preferido,
perfeito manipulador das palavras e guardava um segredo.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Depois de uma tarde
inquieta no trabalho, chegou em casa e foi avisada pelo porteiro de
que acabara de receber um pacote. Correu para buscá-lo e foi
rasgando o envelope plástico forrado de bolhas com os dentes.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Finalmente Último
inferno. Jogou a bolsa no chão e sentou-se para ler as cento e
trinta páginas de bônus de André Reis. Enquanto lia, a noite se
aproximava, escurecendo a sala de estar, tornando a leitura árdua.
Ana, porém, resistia, lia sem pensar, como se pudesse. Lia sem
parar, apertando os olhos, envesgando-os, quase lacrimejando.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Capa branca com um
círculo vermelho no centro. O nome do autor no alto, em vez de
editora, o nome de uma gráfica. Sem referências importantes na
orelha. Apenas o resumo na contracapa. Romance brasileiro.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Na parte interna da
capa, escrito à lápis, o e-mail do autor, provavelmente anotado
pelo primeiro dono, talvez um conhecido que comprara por
solidariedade, consideração ou pena. Me mande seus comentários
sobre o livro, imaginou André falando no dia do lançamento. Se é
que houve lançamento, pois não havia autógrafo. Quem sabe o leitor
tenha conseguido o e-mail para enviar suas considerações:</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Prezado André Reis,</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ana chegou a ligar o
computador para escrever ela mesma um e-mail, mas desistiu. A luz da
tela iluminando seu rosto e levemente também a estante. Acabou
entrando em seu perfil de uma rede social onde havia um cartaz
convidando: Lançamento de Flores Mortas e tarde de autógrafos com
André Reis. Seria dali a dois dias.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Acordou sentindo a
passagem de 48 horas e vestiu-se para o lançamento. Arrumou sua
bolsa e guardou nela Último inferno. Pegou um táxi que não tinha
ar condicionado, pensou no livro que tinha dentro da bolsa, viu que o
motorista a olhava pelo retrovisor calado e nojento. Queria sair
daquele táxi tanto quanto queria chegar à livraria. Contudo, a não
ilusão de concretude urbana a fazia se atrasar: muitos sinais, ruas
engarrafadas e, ironicamente, nenhum livro para ler. Os olhos do
motorista, Ana acordando do sonho. Trinta reais, moça. A porta de
vidro, pessoas lá dentro se misturando aos livros.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Ana entrou, mas não
foi em direção à fila que conduzia ao encontro com o escritor. Em
vez disso, circulou entre as estantes e viu livros que vira tantas
vezes antes. Viu uma pilha de Flores mortas e outra pilha tão grande
quanto através da parede espelhada da livraria. Olhou-se, viu-se tão
como André. Os mesmo olhos. Sentiu o livro que carregava na bolsa
vivo como um filho que quisera abortar.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Foi até a mesa de
André Reis e o viu tal qual a si mesma. O mesmo olhar compreensivo
com os que sabem menos. Olhou suas próprias mãos e viu as veias e
pelos masculinos. O livro pulsando na bolsa, pulando, querendo a
liberdade que Ana daria ao sair da livraria correndo, caminhando
entre as ruas da cidade, parando em uma agência de correios e
novamente andando até chegar em casa. Cansada, mas pronta para
desarrumar sua estante. Tirou todos os livros da ordem,
desemparelhou-os, sentou-se no chão para reler pedaços de histórias
para dormir.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
Dias depois abriu a
busca do sebo virtual e buscou André Reis. Percorreu a lista e a viu
completa: Flores mortas já estava disponível para a venda e o único
exemplar de Último inferno completava a coleção.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br />
</div>
Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-79929328173037768202012-09-26T16:06:00.002-07:002012-11-09T15:12:10.617-08:00Romeu e Julieta<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Chorei por causa da
cebola. Não porque estivesse picando cebolas e sentindo aquela
substância que evapora delas e entra nas minhas narinas e olhos.
Estava descascando a cebola e e por isso chorava. A cebola não
acaba. Não termina, não termina. É um infinito de cascas a serem
tiradas, um desespero que tempera o feijão, o arroz, o bife e ainda
se come cru. Desespero do que não acaba nunca e um choro que não é
de lágrimas. É daqueles em que o olho fica ardido e a lágrima
resseca.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Desespero do bife com
batata frita sem banana a milanesa. Não faz sentido um prato sem
banana. Na minha cabeça todas as comidas deveriam ser como o queijo
com a goiabada, sempre doce com salgado e nunca esse prato seco de
arroz, macarrão e lentilhas.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Pois o ser humano foi
inteligente quando resolveu temperar tudo com cebola. Mas foi
ignorante quando decidiu usar o conceito de doce com salgado somente
na sobremesa.</div>
Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-68145142088047362492012-09-21T17:34:00.001-07:002012-11-09T15:17:06.984-08:00Rádio de crente<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Tem uma kombi que me
leva para casa todos os dias, quase todos os dias. Uma kombi
comunitária que para na esquina e espera as pessoas que voltam do
trabalho. As mulheres que vão ao banco pagar as contas do
marido e as avós que buscam as crianças no colégio. Elas conversam
muito, as mulheres e as avós: futebol, desgraça, prefeitura, o
preço das coisas. Falam muito com o motorista. Ele tem pressão
alta, de vez em quando não tem kombi porque o homem se alimenta
errado e passa mal. Aí a gente vai para o ponto de ônibus, ou
então, rachamos um táxi, embora eu tenha vergonha de convidar
alguns companheiros de condução, às vezes as pessoas não têm
dinheiro para táxi. O ônibus convencional demora e dá muitas
voltas. Melhor ir mesmo a pé, diz um homem. Mas
normalmente o motorista está bem, conversa muito e conhece a gente.
Torce pelo flamengo, como eu acho que quase todos os motoristas de
ônibus insistem em fazer, e conta historias engraçadas de sua
netinha. Criança é muito engraçada. É alegria do vovô, da vovó,
uma gracinha. Todos falam mal do governo, da polícia, da guarda
municipal e falam bem do pão fresquinho que vende na padaria do centro e do
tempo aberto.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Ontem teve kombi e não
havia ninguém esperando na parada. O motorista recostado, parecia
cochilar. Como nunca, o rádio estava ligado. Sempre precisamos
esperar encher a kombi ou dar o horário – a cada uma hora. Os
passageiros demoravam a chegar e o motorista recostado compartilhava
comigo e mais outra moça – ou duas – as músicas da rádio de
crente. Ele não conversou ontem, nem sei se estava acordado ou se
dormia. Mas no rádio eram músicas de crente. Dessa vez os
passageiros demoravam a chegar e a kombi permaneceu estacionada pela
uma hora certa enquanto tocavam as músicas. Não chegaram
passageiros suficientes, então seguimos viagem mesmo assim. O motorista
não conversou, apenas desligou o rádio quando deu a partida do
carro. Acho que ontem ele não estava bem.</div>
Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-54545175295494727402012-09-17T07:38:00.000-07:002012-11-09T15:21:58.908-08:00Escombros<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Gisela saia para
trabalhar já sabendo como seria o trajeto. Muitas cantadas,
assovios, olhadas de homens que nunca vira antes, de olhos que
pareciam conhecê-la bem, pois apreciavam seu corpo, seu jeito, sua
boca, seus cabelos. Ela odiava e chegava ao trabalho odiando
principalmente os colegas que diziam que ela deveria se arrumar mais
e ser mais feminina.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Em um desses dias
comuns, no mesmo trajeto, um homem, além de chamar sua atenção com
um psiu, passou-lhe a mão na bunda. Atordoada, Gisela tentou
não olhar para seu rosto. Deu dois passos rápidos, fugindo da
agressão, mas parou de repente e resolveu se virar para o homem. Ele
continuava parado, olhando, rindo, parecendo esperar que ela virasse
para trás. Gisela reparou o uniforme de trabalhador e viu que ele
estava na frente de uma obra iniciada há alguns meses.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Foi então que teve a
ideia de ir até uma delegacia e registrar boletim de ocorrência
contra o homem. Ao entrar na delegacia sentiu o mal estar que todos
devem sentir ao chegar num lugar como esse . Dirigiu-se ao policial e
contou o que havia acontecido há poucos minutos. Eu posso
reconhecê-lo, ele ainda deve estar lá, no mesmo lugar.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Moça, mulher passa por
isso mesmo. Mulher bonita, então, a senhora nem deve imaginar como
é. Tem que tomar cuidado, não pode usar roupas provocantes (Gisela
diminuta no camisão jeans e nas calças pretas), nem muita maquiagem
(Gisela ressecada com rosto lavado de sabão de banho) e cabelo solto
(Gisela no corte de sempre, recuado atrás das orelhas), essas coisas
deixam os homens loucos. Ainda mais esses de obra... O homem parou e
tomou um gole de café... que passam o dia todo com um monte de
homem, sentindo cheiro de homem, bafo de homem, roupa de homem. Fica
doido quando vê mulher.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Gisela não conseguiu
responder, embora seu peito estivesse cheio de ar. A senhora quer uma
água? É bom pra se acalmar, eu vou buscar ali dentro. Todos
pensariam que o moço era muito atencioso e que a tratava melhor do
que outros. Gisela pensava que poderia matá-lo ...</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Ontem sua mãe disse
que vira um rato passar pelo quintal. Se desesperou: ele deve viver
aqui em casa. Tenho horror a rato, minha filha! Gisela ficou de
comprar chumbinho. Ela colocaria num pedaço de pão e do dia para a
noite encontrariam o ratinho morto. Mas que nojo! No caminho do
trabalho ela parou no camelô e comprou o veneno. Esquecida, porém,
do problema do rato, deixara o chumbinho na bolsa.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
… e enquanto o
policial foi buscar sua água, retirou da bolsa o vidrinho com
bolinhas pretas que mais pareciam minúsculas bilhas que jogava na
infância. Disfarçou pegando um panfleto sobre violência doméstica
no balcão e lançou no copo de plástico ainda cheio de café três
daqueles bilhas que serviam para matar ratos.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Aguardou mais alguns
segundos o retorno do homem com o copo d'água que bebeu muito
agradecida pelo favor e pelo conforto. Muito obrigada, bom trabalho.
Não há de quê. Tome cuidado na rua. Gisela saiu da delegacia
sentindo a quentura do olhar daquele policial, do outro que
conversava junto à porta, do delegado, do chefe de polícia, do
secretário de segurança. Todos na sua nuca.</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Resolveu sair armada, a
partir desse dia. Cada dia uma forma diferente de matar.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
E matou: o homem da
obra com uma faca de cozinha bem amolada. O cara do trabalho com uma
vistosa maçã envenenada. O cobrador do ônibus com um tiro. O
frentista de posto, queimado. O marido da tia-avó jogando-o da
escada.
</div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
Matou-os todos, mas
preferiu não ter matado quando numa quarta-feira, voltando do
trabalho, foi levada para dentro de uma obra abandonada.
Arrependeu-se quando sentiu sobre si os escombros dos homens
assassinados. </div>
Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-77486990371697228522012-02-23T13:18:00.001-08:002012-02-23T13:22:01.745-08:00Urubu<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">Robson chegou à casa do seu primo do outro lado da cidade escondendo a arma, embora soubesse que seus parentes conheciam o teor do seu trabalho. Um fugitivo não vai andar com uma arma à mostra, porém, não poderia se desfazer dela. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Ruan se desesperou, até queria ajudar o primo, mas tinha passagem pela polícia e não podia se encrencar de novo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Robson, você vai embora daqui, não quero problema com a polícia. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Cara, eu vou ficar pelo menos até amanhã. Chama a tia que eu preciso de curativo. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> -Vou te levar pro hospital.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Robson apontou a arma para Ruan e o ameaçou. Ou chama a tia e o ajuda a se livrar dessa ou morre. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Ruan foi até o puxadinho nos fundos da casa onde a mãe costurava e disse a ela que fosse correndo ajudar Robson.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Ele tá armado, faz o curativo e volta aqui pra salinha. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Tia Selma, a senhora tem que me ajudar. - Robson disse isso já tirando a camisa e mostrando as costas machucadas. O tiro de raspão tirou um naco da carne e a ferida estava muito suja. Tia Selma não falou nada com o sobrinho, foi até a cozinha pegou algodão e álcool. Esfregou o álcool na carne viva enquanto Robson apurava os ouvidos aguardando algum barulho perigoso. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Enquanto sua mãe fazia o curativo, Ruan foi até o quarto e pegou uma camiseta limpa. Ao voltar para a sala viu a mãe fechando a ferida com esparadrapo e ouviu o agradecimento do primo.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Deus lhe pague, minha tia. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Aqui uma camisa limpa. Quando é que você vai embora, Robson?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Não sei. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Melhor você ir logo, olha minha mãe aqui...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Não vai acontecer nada com ela não, irmão, fica tranquilo. A tia fica lá dentro e você aqui de vigia. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Mas eu preciso ir trabalhar. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Não vai que eu não posso ficar aqui sozinho.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Mas o que você fez?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> - Não interessa. Amanhã eu arrumo um lugar pra ficar. Por enquanto eu fico aqui. </span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Naquela manhã, Ruan fora abordado por um policial na subida do morro. Tudo bem, irmão, pode subir. Era bom ouvir aquilo. O primo vai por tudo a perder. Mas sangue é sangue e dos nossos temos que cuidar. Era assim na família, na facção, na cadeia e ainda não conseguira se livrar da primeira das três instituições das quais já fizera parte. Pensava em seu futuro e lembrava de um passado tão próximo e tão bom...</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Barulho de botas trotando na areia grossa das vielas o tirou dos seus pensamentos.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">- Porra, me acharam!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Os dois sabiam que era a polícia ou vingadores.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">- Tem uma arma aí, Ruan?</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Claro que tinha, não era uma boa ideia, mas como não se proteger morando ali com sua mãe? Sempre podia ter alguém querendo um acerto com o passado. Pegou a arma e se protegeu na parede da cozinha.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">- Vambora, não podemos ficar aqui esperando, não!</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Abriu a porta e correu pelos labirintos das casas até chegar à outra saída do morro. Ruan atrás, sem nem saber por quê, achando gostosa a adrenalina da fuga. Quando deu por si, estava no asfalto com uma trinta e oito na mão.</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"> </span><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> ********</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"><br />
</span></div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;"> Cláudio até sabia do envolvimento do seu sócio com uma certa bandidagem. Não achava nada de mais: homens de negócios fazem negócios. O problema é que não sabia exatamente qual era o envolvimento, mas enquanto o sócio estivesse resolvendo as coisas não tinha problema. </span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><span style="color: #990000; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; font-size: x-small;"><br />
</span></div><div align="JUSTIFY" class="western" style="margin-bottom: 0cm;"><br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-80001216259117469012011-11-13T03:08:00.002-08:002012-02-23T13:15:47.512-08:00Livros me dão náusea 24Tentando ler <i>O Filho Eterno</i>, do Cristóvão Tezza. Final de ano, período de provas, tudo que consigo ler são as redações dos alunos.<br />
Por isso não consegui postar a continuidade de "Urubu".Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-47536574909517302602011-09-29T14:52:00.000-07:002011-09-29T14:52:25.515-07:00Urubu<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Quando cheguei ao meu quarto vi, em pé, ao lado da cama, um enorme urubu. Daqueles que a gente vê no céu, percebe que é grande, mas não o quanto. Fui andando devagar para trás, olhando nos olhos do bicho, morrendo de medo que acontecesse comigo o mesmo que com o personagem do conto de Kafka. Já imaginava o urubu descendo pela minha garganta, bicando minhas entranhas. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Consegui ultrapassar de ré o portal do quarto e, bem devagar para não atraí-lo, cheguei à cozinha. “Pelo amor de Deus, tem um urubu na minha casa”, disse ao porteiro pelo interfone. “Tá cheio de urubu aqui por cima, a senhora não devia deixar a janela aberta”. “Meu senhor, preciso de ajuda, não de conselho”. “A senhora espera um pouco que eu vou chamar o zelador”. Chama a Nasa.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Esperei o zelador com a porta aberta. Não para recepcioná-lo, mas para fugir, caso o urubu se manifestasse. Será que ele já não saiu? Será que ele andou até a sala? Ou voou?</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Quando o zelador chegou fomos até o quarto, eu, atrás dele, com a vassoura na mãe. Ele de lanterna - não sei por que, estava de dia- e um pedaço de pau. O homem estava aterrorizado, mal pôs a cabeça pra dentro do quarto e já foi dizendo: “Ih, dona, o bicho é grande demais, não dou conta sozinho, não”. Já sabendo do perigo, o urubu havia ampliado as asas, mostrando sua envergadura multiplicada por dois. Chamamos o faxineiro e, pra garantir, o sindico. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Agora éramos quatro a entrar, pé ante pé, no quarto. Nesse momento o urubu deu apenas uma batida com as asas e alcançou o teto do quarto. Começou a se debater, voar em círculos, dar cabeçadas no ventilador de teto enquanto o faxineiro e o síndico tentavam agarrá-lo toda vez que batia o corpo contra o teto e esse movimento o empurrava para baixo. Nesse sobe e desce eu já tinha perdido a voz de tanto gritar e do zelador nada mais se sabia. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">De repente o síndico, que era um senhor bem atlético para a idade, subiu na cama e deu um pulo sobre o urubu. Conseguiu agarrar seu pescoço. Com um esforço enorme dominou o bicho, sem conseguir evitar ser ferido por suas garras e bico. Durante a luta corporal o urubu regurgitou seu putrefato alimento e com essa forma nojenta de defesa contaminou meu colchão, meu ar e a cara do síndico. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Nesse momento, o faxineiro ajudou o síndico e os dois apertaram o pescoço do urubu com tanta força que o mataram. O síndico sujo de vômito de urubu e o faxineiro ficaram ali no meio do quarto, bem onde vi o bicho pela primeira vez, com seu cadáver na mão. E eu no portal, pensando em nunca mais entrar naquele cômodo. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Os dois levaram o urubu morto. Fechei a porta do quarto e chorei a tarde inteira no sofá da sala.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"> ***</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Robson chegou à casa do seu primo do outro lado da cidade escondendo a arma, embora soubesse que seus parentes conheciam o teor do seu trabalho.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">[continua]</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-62662474100018418572011-09-23T05:53:00.001-07:002012-11-09T15:23:40.256-08:00livros me dão náuseas 23Os da minha rua - Ondjaki<br />
Do fundo do poço se vê a lua - Joca Reiners TeronSilvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-33708360000265729782011-09-09T04:52:00.001-07:002011-09-12T12:59:00.291-07:00Livros me dão náuseas 22Carvão animal - Ana Paula Maia<br />
O coração às vezes para de bater - Adriana LisboaSilvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-9961546007740327052011-08-27T12:44:00.000-07:002011-11-13T03:05:48.221-08:00Livros me dão náuseas 21- extended versionAcabei de terminar o Por que sou gorda, mamãe? da Cíntia Moscovich<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">Cíntia, seu livro para mim foi um romance de ficção meio autobiográfico, pelo menos me fez pensar assim. Tanto que a identificação foi imediata. Em dieta desde os 12 anos. Comendo comida chata de períodos em períodos da vida. Odiando a academia de períodos em períodos da vida. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Assim que o livro foi lançado tive curiosidade de ler, Cíntia. Pelo conflito com a mãe, pela narrativa dos antepassados judeus e pela herança obesa.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Comprei o livro assim que soube que iria ter tempo para ler. Comprei e logo comecei a ler por todo canto: intervalos de aulas, ônibus, restaurantes e até mesmo em casa! Sabe, Cíntia, em momentos não gostei do livro. Não achei sua melhor obra. Por vezes tive certeza de aquela era você, sua história, nua e crua. Depois percebi que era você, mas só na emoção. A identificação era a mesma que sentiria qualquer uma que estivesse e/ou fosse gorda (ex-gorda, tivesse medo de ser gorda etc). Torci por sua perda de peso a cada capítulo.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Por dois momentos me senti o paradoxo obeso: li seu livro comento pastel de belém na Casa Cavé. Li seu livro comendo torta de chocolate da Lecadô. Com capuccino da primeira vez e apenas com um copinho d'água na segunda. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Torci para que não estivesse aparentando ser muito gorda, às vezes a gente escolhe as roupas erradas, você sabe, Cíntia. Tinha aquela sensação de "olha a gorda lendo livro pra emagrecer e se entupindo de açúcar". Mas não dá para evitar. Também tenho antepassados famintos e o olho maior que a barriga (como o Menino Maluquinho). Então me lembrava de que aquilo era literatura e que se danassem aqueles que estivesse pensando que seu livro era auto-ajuda, livro de dieta, a lei da atração pra gordinhos. </div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">No fim das contas, talvez seu livro tenha sido até mesmo uma homenagem ao gordo culpado e ele merecesse ser lido diante de porções de açúcares, carboidratos, gorduras, pornografia, e todos os outros crimes que ingerimos.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Sabe, Cíntia, fiquei triste quando o livro terminou. Feliz por sua dieta ter dado certo e por eu ainda ter mãe e pai. Espero que a reabilitação seja o destino de todas nós e que consigamos conviver bem com a comida e com a mãe.</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-6849181007963319052011-08-19T07:46:00.001-07:002011-08-19T07:46:23.956-07:00O florista<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Entrei no ônibus junto com o moço que carregava um maço de botões de rosas amarelas daquelas embrulhadinhas em uma espécie de filó. Meio estranho, o cara. Indo vender flores em Niterói? Desconfiei. Não sentei perto dele, não dei sorte ao azar. Me posicionei de forma que pudesse ver os movimentos do suposto florista. A cidade está policiada, fazia tempo que não passava pela Brasil, muitos policiais militares – e suas armas expostas – nas beiradas das avenidas. Não sei se é bom ou ruim. Polícia na rua é sinal de ladrão né? O florista pôs a mão sob a camiseta suja. É agora. Mas ele só se coçou e aninhou melhor as flores protegendo-as do sol. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Chegamos na ponte a agora não seria um bom momento para um assalto, pois não havia como fugir. Eu desceria no primeiro pontos após a descida. Sentei mais à frente e o homem me olhou. Tomara que não toque o celular, se tocar não vou atender. Não vou dar sorte pro azar. Talvez minha mãe queira saber onde eu estou. Um homem sem braço desce no Mocanguê. O que é pior em um assalto: ônibus cheio ou vazio? Logo hoje que eu saquei dinheiro? Pensei em tirar o ship do aparelho de celular, mas não. Tirar o livro (que já havia terminado de ler) da bolsa e fingir tranquilidade. Mas não. Ele poderia perceber e se tornar agressivo. Ele estava se mexendo demais, talvez nervoso pela arma ou pela passagem por algum posto da polícia.</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Se a polícia entrasse no ônibus haveria troca de tiros e eu estava muito longe da janela de emergência. Faltava tão pouco para eu descer. É egoísmo, mas torci pro florista-assaltante começar o assalto depois do meu ponto. Dei sinal muitos metros antes do necessário e fiquei em pé ao lado do motorista. Quando a porta se abriu saltei para calçada e imediatamente corri para o outro lado da rua como se o florista tivesse descido atrás de mim. Mas não. De qualquer forma, não dei sorte ao azar. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Sem olhar para trás tomei minha direção com pena dos passageiros que agora, ou mas tarde, seriam assaltados. </div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-17058308602855963732011-08-12T06:41:00.000-07:002011-08-12T06:42:45.025-07:00Livros me dão náuseas 20Parque Industrial - Patrícia Galvão (Pagu) : De uma vez só, bem rapidinho.<br />
A escrava Isaura - Bernardo Guimarães: Às vezes é preciso recuperar certas origens ligeiramente constrangedoras.<br />
O Fotógrafo continua me dando certas luzes, muitas náuseas.Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-54623993241681253602011-08-08T08:11:00.000-07:002011-08-08T08:11:09.857-07:00Os óculos<br />
<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">A natureza parecia uma manta verde bem fresquinha ao redor do corpo de Julinho. O afago das pessoas em suas bochechas também era mais suave e ele caminhava leve, leve. Depois que ganhara aqueles óculos, tudo havia mudado. Para muito melhor! Tudo bem que havia ficado um pouco mais difícil para acertar o chute na bola e, de certa forma, parecia que ele estava invisível. Todos os seres dos desenhos animados bailavam ao seu redor e a vida tinha ficado igualzinha a anestesia do dentista, só que sem agulha. Eram os óculos. Até que não enxergava mal entes de ganhá-los. Tudo parecia mais ou menos claro até que sua mãe o levou ao shopping e lá Julinho teve a surpresa dos óculos novos. Não eram aqueles de aro fininho dourado, nem daqueles que imitavam não estar de óculos. Eram azuis e vermelhos, com armação grossa que dava um peso estranho no início, e depois adaptação total. A vida de Julinho seria, agora e para sempre, completa como um sonho, pois não precisava de ninguém para guiá-lo pelo mundo. Via. E ver o fazia completo. Em seu coração, agradecia à mãe pela surpresa... Porém, a mãe, essa mesma deusa que tinha antes lhe dado o poder da visão, agora cobrava:</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">- Gostou do filme, Julinho? (Que filme?)</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">- Entrega os óculos à moça. (Que moça?)</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">- Outras crianças vão entrar no cinema agora. (Que crianças?)</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">- Não chora, filho, semana que vem eu trago você de novo. </div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-74094433156527948712011-08-05T06:42:00.000-07:002011-08-05T06:42:00.739-07:00Seda Azul<div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Ana saia na rua e que moça feia ouvia dos pensamentos dos outros. Um pouco constrangida, se calava e seguia o passo rumo ao banco, cinema, faculdade, casa. Às vezes soltava o cabelo para ver se o rosto se aninhava aos fios grossos, deixando a feiura menos aparente. Mas os tais fios grossos eram também opacos, quebradiços e muito volumosos e assim, que monstruosidade, pensavam em voz alta os passantes. E seguia o passo, infeliz de ter tantas obrigações a fazer de dia, na luz que tudo revelava, infeliz de não ter um carro (com insulfilme acima dos limites permitidos). </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Na volta para casa, Ana passou em frente a um restaurante onde viu uma moça de vestido azul, coque baixo e pequenos brilhantes nas orelhas. Os outros também olhavam, que mulher linda, um coro de pensamentos opinava. Foi andando sem desviar olhar, até que virou a esquina e chegou ao ponto de ônibus. Em casa, Ana pensou na moça e dormiu... </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">… Para acordar de manhã e não se olhar no espelho de história infantil que denunciaria com voz maléfica a situação estética da moça. Melhor não. Ainda teria de cruzar avenidas sob insultos de pedestres e de motoristas que pensavam você não devia sair de casa! Um acinte aos olhos! </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">À noite, na fila do teatro sua solidão viu a solidão de uma mulher muito bonita. De vestido azul. Era seda azul. Coque, brincos e olhares. Divertiu-se com o espetáculo e dormiu sorrindo. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">Mais um dia, mais uma noite. E hoje iria a uma boate. Abriu o guarda-roupa, escolheu o que vestir. Ao chegar à boate viu uma moça sozinha mostrando a identidade para o segurança, feia na foto, feia ao vivo, disse o pensamento do segurança. Coitada, disse seu pensamento, e entrou na boate com o único documento que tinha: os olhos. Passou pelo guarda-volumes e, como não levara nada, parou apenas para se olhar no espelho. No reflexo, se viu linda no vestido de seda azul. Um pouco atrás de si, a moça feia se esgueirando entre os frequentadores. </div><div class="western" style="margin-bottom: 0cm; text-align: justify;"><br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-43527266041365950632011-07-31T12:30:00.000-07:002011-07-31T12:30:51.529-07:00Os livros<div style="text-align: justify;">Ela só queria ler um livro em paz. "Um dia frio, um bom lugar pra ler um livro", essas coisas. Mas não conseguia. Toda vez que começava a leitura uma angústia a dominava, parecia que um mundo de tensão a espreitava. Não era calmo. Lia. Depois deixava ao volume terminado na estante e olhava, temerosa, para todos aqueles outros ali guardados. Juntava mais livros do que podia ler. Sonhava ser devoradora. Daquelas que leem 100 livros por ano. 100 livros. Tão bonito esse número. Não passava de vinte, sendo uns cinco ou seis inacabados. Sonhava, também, entrar na história, sentir-se livre, liberta na ficção, de mãos dadas com seus ídolos literárias, vivendo uma emoção muito diferente do que sentia. E foi assim que a atração pelos livros, lindos, limpinhos nas livrarias - vibrantes nos sites das livrarias - fez com que ela construísse sua biblioteca feita de angústia e medo. Como só uma paixão interminável e talvez reprimida pode construir: um universo só seu, feito de uma coisa que só ela podia reconhecer. </div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-58029933666243022442011-07-30T07:41:00.000-07:002011-07-30T07:41:15.326-07:00Livros me dão náuseas 19Eu voltei. <div>A ler</div><div>A escrever</div><div>A postar</div><div>A respirar</div><div><br />
</div><div>Lendo: Azul corvo (Adriana Lisboa) e O Fotógrafo (Cristóvão Tezza).</div><div><br />
</div><div>Agora vai, minha gente... Agora vai!</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-26286564410055904512011-02-23T15:07:00.000-08:002011-02-23T15:07:06.321-08:00Livros me dão náuseas ... perdi as contas...Estou tão em falta com meu blog, meus leitores e meus livros...<br />
Estou lendo Minha alma é irmã de Deus, mas não consigo terminar de jeito nenhum.<br />
Acabei de ler Só as mulheres e as baratas sobreviverão da Claudia Tajes. É uma espécie de intertexto com A Paixão segundo G.H. Só que mais contemporâneo e bem menos genial.<br />
Estou com muitos livros novos e nem começados. Excesso de trabalho e calor dão mais náusea que os livros.<br />
De volta ao trabalho!Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-43284876917915171442010-10-31T15:28:00.001-07:002010-10-31T15:28:32.183-07:00Presidenta<!--[if gte mso 9]><xml> <w:WordDocument> <w:View>Normal</w:View> <w:Zoom>0</w:Zoom> <w:HyphenationZone>21</w:HyphenationZone> <w:Compatibility> <w:BreakWrappedTables/> <w:SnapToGridInCell/> <w:ApplyBreakingRules/> <w:WrapTextWithPunct/> <w:UseAsianBreakRules/> <w:UseFELayout/> </w:Compatibility> <w:BrowserLevel>MicrosoftInternetExplorer4</w:BrowserLevel> </w:WordDocument> </xml><![endif]--><!--[if gte mso 10]> <style>
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</style> <![endif]--> <br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Hoje se elegeu a primeira mulher presidente do Brasil. Mais uma para a América do Sul – além de Cristina Kirshner e Michele Bachelet. Isso nos mostra uma mudança em relação à visão dos gêneros? Sim. Inclusive pode-se dizer que é uma vitória para as mulheres. Vitória até gramatical pela possibilidade de escrever, dizer PRESIDENTA. A desinência de gênero não é mera formalidade dentro de uma língua cujo padrão é masculino. Língua essa que reflete a cultura. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Entretanto, o feminismo não supera o realismo. A primeira presidenta não representa uma mudança radical, foi rejeitada por muitos eleitores, inclusive por aqueles e aquelas que, como eu, decidiram em que NÃO votar e ajudaram a colocá-la no poder. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Em minha primeira eleição, votei no Lula. Ele ganhou e foi extremamente emocionante saber o resultado das urnas e depois vê-lo receber a faixa de presidente da república. Foi bonito. </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;"> </div><div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">Dessa vez não senti tanta emoção, é mais apreensão pelas cenas do próximo capítulo. Porém não podemos ser apenas espectadores como temos sido. Temos que ser muitas presidentas, sejamos homens ou mulheres, e provocar uma mudança que vá além do gênero do substantivo. </div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-89738631679969814882010-10-18T14:28:00.000-07:002010-10-19T13:08:21.771-07:00Dia dos professores<div style="text-align: justify;">E eu nem me lembrei da minha profissão. Passou porque eu mesma nunca quis isso pra mim. Mas mulher que estudava, na minha época, era pra ser normalista; e normalista, ou dava aula, ou casava, ou ficava pra tia. Comigo aconteceram quase que as três coisas. Fiquei noiva durante o colégio, nem pensava em trabalhar, só seria uma esposa instruida. Com tudo pronto pro casamento, meu noivo morreu. Casa comprada, linda, enfeitada. Fui morar nela com minha mãe e uma irmã, herança de viúva solteira. Acabei precisando trabalhar para manter a casa. Minha irmã casou, teve filhos que foram meus alunos. Os filhos dos meus alunos foram meus alunos. E eu gostando cada vez menos da profissão. Gritando com as crianças, agredindo seus sonhos ao repetir que não iam passar de ano, não iam mudar de vida. Vão terminar pobres como seus pais. Vão terminar tristes como eu. Quem sabe acabem na cadeia. Pobres, feios, pretos. Hoje comemoram um dia em que não ganhei nem abraços nem flores, nem mesmo sei se recebi cumprimeitos sinceros. Acho mesmo é que os cumprimentos sempre foram irônicos. Tratei de ignorá-los. Assim como a todos os colegas, diretores e alunos. Sentava, abria uma página do livro, mandava que a turma fizesse - que se matassem se quisessem - dava as respostas corretas. Deixava-os livres. Até que adoeci. Aposentei-me por invalidez. Invalidei meus anos. </div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-81533297909910997302010-04-09T12:45:00.000-07:002010-04-09T13:23:48.018-07:00AfetosA vida é feita de afetos. Uns afetos distraídos. Outros sensuais. E alguns profundíssimos.<br />
A linguagem é o afeto em comum.<br />
A obra de arte é a educação afetiva.<br />
Dê ao outro um jornal e depois dê um livro e saberá a diferença entre oferecer um aperto de mão e um abraço.Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-69586096389131232642010-04-01T07:33:00.000-07:002010-04-07T17:35:50.739-07:00Livros me dão náusea - 17<div style="text-align: justify;">Agora sim as coisas começam a correr decentemente na minha vida de leitura. Vários livros abertos, mas as leituras caminhando:<br />
<div style="text-align: center;"><b>Update </b></div><div style="text-align: center;">O feriado da páscoa, mais o feriado forçado por São Pedro renderam bons frutos literários!</div></div><div style="text-align: justify;"><br />
<strike>A literatura em perigo - Todorov</strike> Terminei!!!<br />
(acabei de publicar um texto sobre ele no <a href="http://eduqueinforme.blogspot.com/">http://eduqueinforme.blogspot.com</a>)</div><div style="text-align: justify;"><strike>A estrela sobe - Marques Rebelo </strike>Há terminei! </div><div style="text-align: justify;">Boca do inferno - Ana Miranda</div><div style="text-align: justify;">História do corpo vol. 3</div><div style="text-align: justify;">Linguagem e ideologia - José Luis Fiorin</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Vamos ver qual deles sobrevive!!!<br />
<br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-43659132465347732712010-03-16T16:06:00.000-07:002010-03-16T16:06:43.984-07:00O tempoé amigo da literatura.<br />
A falta dele dá mão à burrice e à falta de produção.<br />
Vivo sem tempo para o que mais importa. <br />
Mas me importo com todos com que uso meu tempo.Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-36932022114961897322010-01-11T06:09:00.000-08:002010-01-11T06:09:18.833-08:00Livros dão náuseas - Edição férias<div style="text-align: justify;">Complicado atualizar esse tópico nas férias! Fico muito improdutiva. Um pingo de peso na consicência pelas pendências que tenho, mas muito prazer no ócio.<br />
</div><div style="text-align: justify;">Mas aí vao minhas tentaivas:<br />
</div><div style="text-align: justify;">Entre rinhas de cachorros e porcos abatidos (Ana Paula Maia).<br />
</div><div style="text-align: justify;">Noites Brancas (Dostoiéviski).<br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-24376486831722013092010-01-11T06:06:00.001-08:002010-01-11T06:06:19.452-08:00Sol brilhando,<br />
chuva fina<br />
linda.<br />
Glitter por todo lado.Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3206016754213765278.post-38204780583625273092009-12-03T12:27:00.000-08:002009-12-03T12:27:11.289-08:00Cinderela Carioca<div style="text-align: justify;">Recebeu do comandante uma bucha, fósforos e um litro de gasolina. Procura um carro, manda os passageiros descerem, se precisar, atira no motorista e joga o corpo pra queimar junto. Põe fogo em tudo pra eles saberem que nós não vamos ficar quietos.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">O comandante (fada-madrinha) o incumbia pela primeira vez uma missão importante.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Pegou a sacola com o material, vestiu um boné, calçou chinelos e seguiu. Com medo. Se viu com muito mais medo do que imaginava.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Muitos ônibus passavam pela avenia principal e pensava "no próximo entraria". Espera parar no ponto. Não, esse está muito cheio. A rua lotada, poderiam pegá-lo.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Avistou um coletivo quase vazio parado num ponto. Uma chance. Foi andando em ziguezague entre os transeuntes e entou no ônibus, passageiro habitual. Odenou que descessem, molhou a bucha, jogou um pouco de gasolina no assoalho. Sentiu respingar-lhe o líquido. Preparou-se para correr e riscou o fósforo.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A chama o hipnotizou por uns segundo. O corpo detido no veículo sentiu o pé queimando, mas ainda demorou a se mover. Conseguiu fugir e no último degrau perdeu o pé de chinelo que estava em chamas.<br />
</div><div style="text-align: justify;"> <br />
</div><div style="text-align: justify;">Correu o mais que pôde sem olhar para trás. Não acreditava na liberdade. O coração ardendo como o ônibus, o pé chamuscado de asfalto quente.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Finalmente, chegando ao ponto combinado com o comendante, foi olhado da cabeça aos pés (semi-descalços). Estou sabendo que não fez como eu mandei. Mas está bom, dei meu recado.<br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Recobrada a cor, recebeu um tapinha nas costas sem sorriso e um cascudo sobre o boné. O pé ardia como se nunca tivesse descido daquele ônibus.<br />
</div>Silvia Barroshttp://www.blogger.com/profile/03927523727955907837noreply@blogger.com2