segunda-feira, 17 de agosto de 2009

mulher jogando flores na Baía da Guanabara

Provavelmente para seus mortos.
Entrou na barca. Velho percurso Rio-Niterói, feito pelas barcas velhas de fim de semana. Sentou-se à janela com um maço de flores nas mãos: rosas brancas. Quando já íamos pelo meio da Baía, concentrada no olhar-prece, começou a lançar lentamente as flores: rosas brancas.

Imaginei que seriam por uma morte recente e ainda doída. Depois que fossem seis flores, cada uma para seus seis mortos:

Para meu pai, morto em 1977; para meu avô, morto em 1980; para minha filha, morta ainda no útero; para minha cunhada, morta em 1992; para meu sogro, morto em 1995; para meu vizinho, morto em 2009.

Imaginei que fossem para todos os mortos em desastres cujos corpos jamais foram encontrados no mar.

Por último imaginei que fossem pelos vivos que correm o terrível risco de viver. Imaginei e desejei: rosas brancas.

2 comentários:

Mel. disse...

Professora, que blog legal! Bem a sua cara mesmo, hein? Gostei dos contos e do "Livros me dão náusea".

Beijos, Carmel.

Hiran Matheus disse...

Gostei desse texto e concordo com a Carmel o blog ta bem legal =D