domingo, 31 de outubro de 2010

Presidenta


Hoje se elegeu a primeira mulher presidente do Brasil. Mais uma para a América do Sul – além de Cristina Kirshner e Michele Bachelet. Isso nos mostra uma mudança em relação à visão dos gêneros? Sim. Inclusive pode-se dizer que é uma vitória para as mulheres. Vitória até gramatical pela possibilidade de escrever, dizer PRESIDENTA. A desinência de gênero não é mera formalidade dentro de uma língua cujo padrão é masculino. Língua essa que reflete a cultura. 

Entretanto, o feminismo não supera o realismo. A primeira presidenta não representa uma mudança radical, foi rejeitada por muitos eleitores, inclusive por aqueles e aquelas que, como eu, decidiram em que NÃO votar e ajudaram a colocá-la no poder. 

Em minha primeira eleição, votei no Lula. Ele ganhou e foi extremamente emocionante saber o resultado das urnas e depois vê-lo receber a faixa de presidente da república. Foi bonito. 

Dessa vez não senti tanta emoção, é mais apreensão pelas cenas do próximo capítulo. Porém não podemos ser apenas espectadores como temos sido. Temos que ser muitas presidentas, sejamos homens ou mulheres, e provocar uma mudança que vá além do gênero do substantivo.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dia dos professores

E eu nem me lembrei da minha profissão. Passou porque eu mesma nunca quis isso pra mim. Mas mulher que estudava, na minha época, era pra ser normalista; e normalista, ou dava aula, ou casava, ou ficava pra tia. Comigo aconteceram quase que as três coisas. Fiquei noiva durante o colégio, nem pensava em trabalhar, só seria uma esposa instruida. Com tudo pronto pro casamento, meu noivo morreu. Casa comprada, linda, enfeitada. Fui morar nela com minha mãe e uma irmã, herança de viúva solteira. Acabei precisando trabalhar para manter a casa. Minha irmã casou, teve filhos que foram meus alunos. Os filhos dos meus alunos foram meus alunos. E eu gostando cada vez menos da profissão. Gritando com as crianças, agredindo seus sonhos ao repetir que não iam passar de ano, não iam mudar de vida. Vão terminar pobres como seus pais. Vão terminar tristes como eu. Quem sabe acabem na cadeia. Pobres, feios, pretos. Hoje comemoram um dia em que não ganhei nem abraços nem flores, nem mesmo sei se recebi cumprimeitos sinceros. Acho mesmo é que os cumprimentos sempre foram irônicos. Tratei de ignorá-los. Assim como a todos os colegas, diretores e alunos. Sentava, abria uma página do livro, mandava que a turma fizesse - que se matassem se quisessem - dava as respostas corretas. Deixava-os livres. Até que adoeci. Aposentei-me por invalidez. Invalidei meus anos.