Cíntia, seu livro para mim foi um romance de ficção meio autobiográfico, pelo menos me fez pensar assim. Tanto que a identificação foi imediata. Em dieta desde os 12 anos. Comendo comida chata de períodos em períodos da vida. Odiando a academia de períodos em períodos da vida.
Assim que o livro foi lançado tive curiosidade de ler, Cíntia. Pelo conflito com a mãe, pela narrativa dos antepassados judeus e pela herança obesa.
Comprei o livro assim que soube que iria ter tempo para ler. Comprei e logo comecei a ler por todo canto: intervalos de aulas, ônibus, restaurantes e até mesmo em casa! Sabe, Cíntia, em momentos não gostei do livro. Não achei sua melhor obra. Por vezes tive certeza de aquela era você, sua história, nua e crua. Depois percebi que era você, mas só na emoção. A identificação era a mesma que sentiria qualquer uma que estivesse e/ou fosse gorda (ex-gorda, tivesse medo de ser gorda etc). Torci por sua perda de peso a cada capítulo.
Por dois momentos me senti o paradoxo obeso: li seu livro comento pastel de belém na Casa Cavé. Li seu livro comendo torta de chocolate da Lecadô. Com capuccino da primeira vez e apenas com um copinho d'água na segunda.
Torci para que não estivesse aparentando ser muito gorda, às vezes a gente escolhe as roupas erradas, você sabe, Cíntia. Tinha aquela sensação de "olha a gorda lendo livro pra emagrecer e se entupindo de açúcar". Mas não dá para evitar. Também tenho antepassados famintos e o olho maior que a barriga (como o Menino Maluquinho). Então me lembrava de que aquilo era literatura e que se danassem aqueles que estivesse pensando que seu livro era auto-ajuda, livro de dieta, a lei da atração pra gordinhos.
No fim das contas, talvez seu livro tenha sido até mesmo uma homenagem ao gordo culpado e ele merecesse ser lido diante de porções de açúcares, carboidratos, gorduras, pornografia, e todos os outros crimes que ingerimos.
Sabe, Cíntia, fiquei triste quando o livro terminou. Feliz por sua dieta ter dado certo e por eu ainda ter mãe e pai. Espero que a reabilitação seja o destino de todas nós e que consigamos conviver bem com a comida e com a mãe.