terça-feira, 27 de outubro de 2009

Livros me dão náusea 16

O fio das missangas; Um sopro de vida; Fazes-me falta

Moçambique; Brasil; Portugal

"Os meus passos não criam eco, a minha voz não tem sombra. É a ti que vejo porque não consigo deixar de te pensar." Inês Pedrosa

"Há um rio que atravessa a casa. Esse rio, dizem, é o tempo. E as lembranças são peixes nadando ao invés da corrente. Acretido, sim, por educação. Mas não creio." Mia Couto

"A inspiração é como um misterioso cheiro de âmbar. Tenho um pedacinho desse âmbar comigo." Clarice Lispector

A impossibilidade de um desequilíbrio mental: é prisão em que vivo.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Procuro

Procuro uma verdade
pra me libertar

Dos dias sem fim,
do meio
das horas.

Pra libertar
do patrulhamento rotineiro
do risco de janeiro.

domingo, 25 de outubro de 2009

Motivo de poesia

Precisa-se de poesia
não de poetas.

Poetas há muitos:
parnasianos, simbolistas.

Precisa-se de poesia,
da vida.
Da vida da poesia.

Poetas nascerão
que não atinjam a vida da poesia.

O vaivém
as pernas avenidas
os braços usinas.

Poetas morrerão
sem saber da
poesia da vida.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pidona

Mamãe picava os tomates com todo o cuidado, porque os cubinhos tinham de ficar perfeitos.
- Me dá um pouquinho, mãe?
Mamãe me deu um punhado de lindos cubinhos que pus todo na boca.
“Menina pidona” – pensou mamãe achando graça.
Na escola os amiguinhos compravam batata-frita na cantina, o lanche mais caro da escola. Meus pais me davam dinheiro pra comprar, mas o dos outros era sempre mais gostoso:
- Me dá um pouquinho?
Geralmente eu ganhava. Mas chorava se não me dessem. Mas enquanto fui pequena sempre havia um piedoso.
- Tadinha, toma, eu dou o meu.
E eu ficava toda feliz, saia saltitando.
Quando era dia de São Cosme e São Damião minha felicidade crescia:
- Moço, me dá um saquinho? Dá um pro meu irmão? E um pra minha irmã?
Com os três saquinhos na mãe ia em direção à mamãe. E ela “Menina pidona”.
Adolescente eu pedia às meninas:
- Me dá um pouquinho do seu perfume? Do seu batom?
E saia mais linda e cheirosa que elas, porque sabia pedir.
- Me dá um pouquinho de você?
E ganhava um pedacinho do namorado de cada uma.
“Menina pidona”.
E pedindo, pedindo, chegou o dia em que desejei me casar:
- Me dá sua mão em casamento?
E ganhando, ganhando, chegou o dia em que recebi um não definitivo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Livros me dão náusea 15

A pequena morte e outras naturezas (Claudia Lage). Recolhendo conchas para meu futuro doutorado-mar.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Livros me dão náusea 14

Comecei a ler Fazes me falta. Mas parei. A Inês Pedrosa não é autora que se leia no turbilhão da rotina. Por isso parei... Ou foi o mundo?