quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

Urubu

Robson chegou à casa do seu primo do outro lado da cidade escondendo a arma, embora soubesse que seus parentes conheciam o teor do seu trabalho. Um fugitivo não vai andar com uma arma à mostra, porém, não poderia se desfazer dela.
Ruan se desesperou, até queria ajudar o primo, mas tinha passagem pela polícia e não podia se encrencar de novo.

- Robson, você vai embora daqui, não quero problema com a polícia.
- Cara, eu vou ficar pelo menos até amanhã. Chama a tia que eu preciso de curativo.
-Vou te levar pro hospital.

Robson apontou a arma para Ruan e o ameaçou. Ou chama a tia e o ajuda a se livrar dessa ou morre.

Ruan foi até o puxadinho nos fundos da casa onde a mãe costurava e disse a ela que fosse correndo ajudar Robson.

Ele tá armado, faz o curativo e volta aqui pra salinha.

Tia Selma, a senhora tem que me ajudar. - Robson disse isso já tirando a camisa e mostrando as costas machucadas. O tiro de raspão tirou um naco da carne e a ferida estava muito suja. Tia Selma não falou nada com o sobrinho, foi até a cozinha pegou algodão e álcool. Esfregou o álcool na carne viva enquanto Robson apurava os ouvidos aguardando algum barulho perigoso.

Enquanto sua mãe fazia o curativo, Ruan foi até o quarto e pegou uma camiseta limpa. Ao voltar para a sala viu a mãe fechando a ferida com esparadrapo e ouviu o agradecimento do primo.

- Deus lhe pague, minha tia.
- Aqui uma camisa limpa. Quando é que você vai embora, Robson?
- Não sei.
- Melhor você ir logo, olha minha mãe aqui...
- Não vai acontecer nada com ela não, irmão, fica tranquilo. A tia fica lá dentro e você aqui de vigia.
- Mas eu preciso ir trabalhar.
- Não vai que eu não posso ficar aqui sozinho.
- Mas o que você fez?
- Não interessa. Amanhã eu arrumo um lugar pra ficar. Por enquanto eu fico aqui.

Naquela manhã, Ruan fora abordado por um policial na subida do morro. Tudo bem, irmão, pode subir. Era bom ouvir aquilo. O primo vai por tudo a perder. Mas sangue é sangue e dos nossos temos que cuidar. Era assim na família, na facção, na cadeia e ainda não conseguira se livrar da primeira das três instituições das quais já fizera parte. Pensava em seu futuro e lembrava de um passado tão próximo e tão bom...

Barulho de botas trotando na areia grossa das vielas o tirou dos seus pensamentos.

- Porra, me acharam!

Os dois sabiam que era a polícia ou vingadores.

- Tem uma arma aí, Ruan?

Claro que tinha, não era uma boa ideia, mas como não se proteger morando ali com sua mãe? Sempre podia ter alguém querendo um acerto com o passado. Pegou a arma e se protegeu na parede da cozinha.

- Vambora, não podemos ficar aqui esperando, não!

Abriu a porta e correu pelos labirintos das casas até chegar à outra saída do morro. Ruan atrás, sem nem saber por quê, achando gostosa a adrenalina da fuga. Quando deu por si, estava no asfalto com uma trinta e oito na mão.

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Cláudio até sabia do envolvimento do seu sócio com uma certa bandidagem. Não achava nada de mais: homens de negócios fazem negócios. O problema é que não sabia exatamente qual era o envolvimento, mas enquanto o sócio estivesse resolvendo as coisas não tinha problema.