quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Pidona

Mamãe picava os tomates com todo o cuidado, porque os cubinhos tinham de ficar perfeitos.
- Me dá um pouquinho, mãe?
Mamãe me deu um punhado de lindos cubinhos que pus todo na boca.
“Menina pidona” – pensou mamãe achando graça.
Na escola os amiguinhos compravam batata-frita na cantina, o lanche mais caro da escola. Meus pais me davam dinheiro pra comprar, mas o dos outros era sempre mais gostoso:
- Me dá um pouquinho?
Geralmente eu ganhava. Mas chorava se não me dessem. Mas enquanto fui pequena sempre havia um piedoso.
- Tadinha, toma, eu dou o meu.
E eu ficava toda feliz, saia saltitando.
Quando era dia de São Cosme e São Damião minha felicidade crescia:
- Moço, me dá um saquinho? Dá um pro meu irmão? E um pra minha irmã?
Com os três saquinhos na mãe ia em direção à mamãe. E ela “Menina pidona”.
Adolescente eu pedia às meninas:
- Me dá um pouquinho do seu perfume? Do seu batom?
E saia mais linda e cheirosa que elas, porque sabia pedir.
- Me dá um pouquinho de você?
E ganhava um pedacinho do namorado de cada uma.
“Menina pidona”.
E pedindo, pedindo, chegou o dia em que desejei me casar:
- Me dá sua mão em casamento?
E ganhando, ganhando, chegou o dia em que recebi um não definitivo.

2 comentários:

Mel. disse...

O final é o melhor!

thaic. disse...

cruel. ainda sim, é o tipo de situação que faz voce rir. dos outros, é claro x)