segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Dia dos professores

E eu nem me lembrei da minha profissão. Passou porque eu mesma nunca quis isso pra mim. Mas mulher que estudava, na minha época, era pra ser normalista; e normalista, ou dava aula, ou casava, ou ficava pra tia. Comigo aconteceram quase que as três coisas. Fiquei noiva durante o colégio, nem pensava em trabalhar, só seria uma esposa instruida. Com tudo pronto pro casamento, meu noivo morreu. Casa comprada, linda, enfeitada. Fui morar nela com minha mãe e uma irmã, herança de viúva solteira. Acabei precisando trabalhar para manter a casa. Minha irmã casou, teve filhos que foram meus alunos. Os filhos dos meus alunos foram meus alunos. E eu gostando cada vez menos da profissão. Gritando com as crianças, agredindo seus sonhos ao repetir que não iam passar de ano, não iam mudar de vida. Vão terminar pobres como seus pais. Vão terminar tristes como eu. Quem sabe acabem na cadeia. Pobres, feios, pretos. Hoje comemoram um dia em que não ganhei nem abraços nem flores, nem mesmo sei se recebi cumprimeitos sinceros. Acho mesmo é que os cumprimentos sempre foram irônicos. Tratei de ignorá-los. Assim como a todos os colegas, diretores e alunos. Sentava, abria uma página do livro, mandava que a turma fizesse - que se matassem se quisessem - dava as respostas corretas. Deixava-os livres. Até que adoeci. Aposentei-me por invalidez. Invalidei meus anos.

2 comentários:

Fran disse...

Nossa... Triste.

Bárbara disse...

Também achei triste, mas é bem aplicável mesmo. Infelizmente devem acontecer histórias semelhantes com as professoras brasileiras. Nossos - digo os de nosso país - são muito desvalorizados (financeiramente e de outras mil formas). Um país que desrespeita os formadores do futuro não pode crescer mesmo. Dia dos professores: mais uma data para me deixar indignada. E eu ainda sinto vontade de lecionar...

Adorei o texto!

beijos