segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Os óculos


A natureza parecia uma manta verde bem fresquinha ao redor do corpo de Julinho. O afago das pessoas em suas bochechas também era mais suave e ele caminhava leve, leve. Depois que ganhara aqueles óculos, tudo havia mudado. Para muito melhor! Tudo bem que havia ficado um pouco mais difícil para acertar o chute na bola e, de certa forma, parecia que ele estava invisível. Todos os seres dos desenhos animados bailavam ao seu redor e a vida tinha ficado igualzinha a anestesia do dentista, só que sem agulha. Eram os óculos. Até que não enxergava mal entes de ganhá-los. Tudo parecia mais ou menos claro até que sua mãe o levou ao shopping e lá Julinho teve a surpresa dos óculos novos. Não eram aqueles de aro fininho dourado, nem daqueles que imitavam não estar de óculos. Eram azuis e vermelhos, com armação grossa que dava um peso estranho no início, e depois adaptação total. A vida de Julinho seria, agora e para sempre, completa como um sonho, pois não precisava de ninguém para guiá-lo pelo mundo. Via. E ver o fazia completo. Em seu coração, agradecia à mãe pela surpresa... Porém, a mãe, essa mesma deusa que tinha antes lhe dado o poder da visão, agora cobrava:
- Gostou do filme, Julinho? (Que filme?)
- Entrega os óculos à moça. (Que moça?)
- Outras crianças vão entrar no cinema agora. (Que crianças?)
- Não chora, filho, semana que vem eu trago você de novo.   

Um comentário:

thaic. disse...

ai que dó. doeu em mim.