sexta-feira, 19 de agosto de 2011

O florista


Entrei no ônibus junto com o moço que carregava um maço de botões de rosas amarelas daquelas embrulhadinhas em uma espécie de filó. Meio estranho, o cara. Indo vender flores em Niterói? Desconfiei. Não sentei perto dele, não dei sorte ao azar. Me posicionei de forma que pudesse ver os movimentos do suposto florista. A cidade está policiada, fazia tempo que não passava pela Brasil, muitos policiais militares – e suas armas expostas – nas beiradas das avenidas. Não sei se é bom ou ruim. Polícia na rua é sinal de ladrão né? O florista pôs a mão sob a camiseta suja. É agora. Mas ele só se coçou e aninhou melhor as flores protegendo-as do sol.

Chegamos na ponte a agora não seria um bom momento para um assalto, pois não havia como fugir. Eu desceria no primeiro pontos após a descida. Sentei mais à frente e o homem me olhou. Tomara que não toque o celular, se tocar não vou atender. Não vou dar sorte pro azar. Talvez minha mãe queira saber onde eu estou. Um homem sem braço desce no Mocanguê. O que é pior em um assalto: ônibus cheio ou vazio? Logo hoje que eu saquei dinheiro? Pensei em tirar o ship do aparelho de celular, mas não. Tirar o livro (que já havia terminado de ler) da bolsa e fingir tranquilidade. Mas não. Ele poderia perceber e se tornar agressivo. Ele estava se mexendo demais, talvez nervoso pela arma ou pela passagem por algum posto da polícia.

Se a polícia entrasse no ônibus haveria troca de tiros e eu estava muito longe da janela de emergência. Faltava tão pouco para eu descer. É egoísmo, mas torci pro florista-assaltante começar o assalto depois do meu ponto. Dei sinal muitos metros antes do necessário e fiquei em pé ao lado do motorista. Quando a porta se abriu saltei para calçada e imediatamente corri para o outro lado da rua como se o florista tivesse descido atrás de mim. Mas não. De qualquer forma, não dei sorte ao azar.

Sem olhar para trás tomei minha direção com pena dos passageiros que agora, ou mas tarde, seriam assaltados.  

Um comentário:

Catchita Iana disse...

eu já me senti assim trezentos mulhoes de fezes. FATÂO.