Tem uma kombi que me
leva para casa todos os dias, quase todos os dias. Uma kombi
comunitária que para na esquina e espera as pessoas que voltam do
trabalho. As mulheres que vão ao banco pagar as contas do
marido e as avós que buscam as crianças no colégio. Elas conversam
muito, as mulheres e as avós: futebol, desgraça, prefeitura, o
preço das coisas. Falam muito com o motorista. Ele tem pressão
alta, de vez em quando não tem kombi porque o homem se alimenta
errado e passa mal. Aí a gente vai para o ponto de ônibus, ou
então, rachamos um táxi, embora eu tenha vergonha de convidar
alguns companheiros de condução, às vezes as pessoas não têm
dinheiro para táxi. O ônibus convencional demora e dá muitas
voltas. Melhor ir mesmo a pé, diz um homem. Mas
normalmente o motorista está bem, conversa muito e conhece a gente.
Torce pelo flamengo, como eu acho que quase todos os motoristas de
ônibus insistem em fazer, e conta historias engraçadas de sua
netinha. Criança é muito engraçada. É alegria do vovô, da vovó,
uma gracinha. Todos falam mal do governo, da polícia, da guarda
municipal e falam bem do pão fresquinho que vende na padaria do centro e do
tempo aberto.
Ontem teve kombi e não
havia ninguém esperando na parada. O motorista recostado, parecia
cochilar. Como nunca, o rádio estava ligado. Sempre precisamos
esperar encher a kombi ou dar o horário – a cada uma hora. Os
passageiros demoravam a chegar e o motorista recostado compartilhava
comigo e mais outra moça – ou duas – as músicas da rádio de
crente. Ele não conversou ontem, nem sei se estava acordado ou se
dormia. Mas no rádio eram músicas de crente. Dessa vez os
passageiros demoravam a chegar e a kombi permaneceu estacionada pela
uma hora certa enquanto tocavam as músicas. Não chegaram
passageiros suficientes, então seguimos viagem mesmo assim. O motorista
não conversou, apenas desligou o rádio quando deu a partida do
carro. Acho que ontem ele não estava bem.
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