Chorei por causa da
cebola. Não porque estivesse picando cebolas e sentindo aquela
substância que evapora delas e entra nas minhas narinas e olhos.
Estava descascando a cebola e e por isso chorava. A cebola não
acaba. Não termina, não termina. É um infinito de cascas a serem
tiradas, um desespero que tempera o feijão, o arroz, o bife e ainda
se come cru. Desespero do que não acaba nunca e um choro que não é
de lágrimas. É daqueles em que o olho fica ardido e a lágrima
resseca.
Desespero do bife com
batata frita sem banana a milanesa. Não faz sentido um prato sem
banana. Na minha cabeça todas as comidas deveriam ser como o queijo
com a goiabada, sempre doce com salgado e nunca esse prato seco de
arroz, macarrão e lentilhas.
Pois o ser humano foi
inteligente quando resolveu temperar tudo com cebola. Mas foi
ignorante quando decidiu usar o conceito de doce com salgado somente
na sobremesa.
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