quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Chuva de verão (1ª Parte)

Passava sempre em frente à sua janela na ida para a escola. Notei que todos os dias a mesma menina estava lá. Passei a cumprimentá-la, já que a via sempre e seu rosto se tornou familiar. Quando disse “oi” pela primeira vez seu sorriso se iluminou de tal forma que até me assustei. Com o passar dos dias fiquei curiosa “por que essa menina não sai da janela?”. Resolvi sair de casa mais cedo para puxar assunto.
“Oi, tudo bem? Você sempre fica na janela, não é?”
“É” – respondeu tímida.
“Meu nome é Elisa, e o seu?”
“O meu é Lara”.
“Muito prazer, Lara. Mas por que você fica sempre na janela?”
“Porque eu gosto de ver o movimento, as outras meninas indo à escola”.
“E por que não sai pra conversar?”
“Não posso, minha mãe não deixa”.
“Que pena, então sempre que puder passarei aqui pra conversarmos”.
E assim eu fiz, parei na janela todos os dias. De início, tínhamos conversas rápidas, depois passei a sair de casa uma hora antes para conversar com Elisa. Seus cabelos eram negros e compridos, os olhos bem fundos e a pele, apesar de morena, estava desbotava porque o máximo de sol que recebia era ali na janela.
“Você vai à escola de manhã, Elisa?”
“Não.”
“Então, que horas?”
“Eu estudo em casa com minha mãe.”
“É mesmo? Seria tão bom se estudasse na minha escola.”
“Em que série você está?”
“Na quinta.”
“Eu também! Quer dizer, se estivesse na escola estaria na quinta série.”
“Por que não pede à sua mãe pra te matricular na escola.”
“Não posso, não posso sair de casa mesmo.”
“O que houve.”
“Nada, meus pais não deixam.”
“Deixa eu falar com a sua mãe. Vou entrar aí, chama ela.”
“Não, Lara! Não, minha mãe foi trabalhar, eu estou sozinha... com a empregada.”
“Que pena, de repente se eu conversasse com ela, falasse que a escola é muito boa. Ela podia até conversar com a minha mãe, que tal?”
Elisa disse que seria ótimo, mas seu rosto ficou muito triste.

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