quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Neuro

Procura um neuro, me diziam uns, vai no meu centro, lá eles curam tudo. Isso é encosto. A verdade é que eu não sabia o que fazer com os zumbidos que perturbavam minha mente. Fui ao otorrino e ele não encontrou nada. O mais estranho é que quando chegava ao consultório o chiado parava. Mas voltava assim que enfiasse a chave na porta do carro. Era como uma televisão fora de sintonia, um chiado que parecia querer se converter em som, em algo inteligível. Às vezes pra dormir eu ficava me embalando com aquele leve sussurro que não era de todo ruim. No início sentia como se tivesse entrado uma abelha no meu ouvido, aliás, tive certeza disso, mas depois de exames profundos não se achou nada, nem abelha, nem doença que explicasse o sintoma. Levei pra casa o diagnóstico do mundo moderno: estresse. Com o passar do tempo eu mesma fui apurando o ouvido e o zumbido ia se tornando cada vez mais um sussurro. Aprendi a sintonizar minha tv interna. Aos poucos as vogais foram se formando, e as consoantes mais primárias. Depois meu nome. Um acalento ouvir meu nome naquela voz rouca dentro do meu ouvido. Palavras de amor, canções de ninar, boleros antigos, cada vez mais conseguia entender aquelas palavras com nitidez. Cada vez mais me sentia acompanhada. Agora começa a se formar a imagem da voz na minha mente, ainda com chuviscos, mas logo em alta definição.

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