quarta-feira, 15 de abril de 2009

Biografia

As pequenas tramas da vida são os grandes acontecimentos. A briga com a melhor amiga. A reconciliação. Os novos encontros. Uma comida inesquecível cuja receita descobrimos na Internet ou com uma tia. A almoço de inauguração da nova receita.

As pequenas tramas da vida são os adjuntos adnominais. Sem elas, somos nós, sim, uma identidade, mas nenhum determinante. Sem elas, não sabemos se foi belo ou feio, se foi alegre ou triste. Sem elas as coisas apenas seriam. Nascer, crescer, se reproduzir, morrer.

As pequenas tramas da vida fazem com que a morte se torne um evento triste. Porque ver morrer que te ensinou a amarrar o cadarço, ou a pessoa com quem você andou de ônibus pela primeira vez. Ou quem te deu nota zero na escola. Ver morrer essas pessoas é a maior tragédia da vida.

As pequenas tramas da vida fazem com que um beijo não seja só o ensejo da relação sexual. Seja o momento mais esperado, mais aguardado e almejado de uma existência. Um simples tocar de bocas que não nasce da simples vontade. Necessita de alguém que seja o alguém, que tenham que te apresente esse alguém, que corresponda a você. É preciso ser o alguém de um alguém.

As pequenas tramas da vida nos fazem comprar livros e guardar flores secas dentro deles. Nos fazem dá-los de presente. Nos fazem filosofar à toa. Nos fazem biografar.

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