sábado, 11 de abril de 2009

Semana Santa

Nublado e vago, o dia acordou vazio de sonhos. Na cama, Luana já pensava na dura rotina de mais uma semana. Café com excesso de açúcar, cidade com excesso de ruas e nenhuma gentileza.
Saiu na hora de sempre e pegou o ônibus para o trabalho. A condução, já cheia, iria em pé, estava acostumada. Mas naquele dia, algo diferente: um rapaz levantou-se para lhe ceder o lugar. Luana tentou recusar, mas no final sentou e como poucas vezes havia acontecido, chegou ao trabalho descansada.

No trabalho, o dia transcorrera sem sustos, nenhuma cobrança do chefe, colegas simpáticos e mais silenciosos que o comum. Quase não sentiu sono durante o expediente. O dia foi mais agradável do que o esperado.

O dia seguinte não poderia ser tão bom. Mas foi igual ou melhor. Havia lugar no ônibus e a pessoa ao lado não dormiu em seu ombro nem puxou assunto sobre conversão religiosa. Recebeu elogio do chefe e almoçou uma lasanha aos quatro queijos sem a menor culpa. Chegou em casa leve e dormiu muito bem relembrando seu bom dia.

Sua sorte não poderia ser melhor. Saiu de casa temendo um temporal, pois, após dois dias nublados, a chuva cairia certamente. Ao contrário disso, no meio do trajeto as nuvens sumiram e o sol brilhou intenso. Sentiu calor, pois a roupa escolhida era para um dia mais fresco. Por sorte, era dia de liquidação nas lojas e a caminho do trabalho comprou um vestido lindo pela metade do preço. Passou o dia recebendo elogios pela bela roupa.

Ah, a generosidade da vida causa desconfianças. Mesmo após três ótimos dias, ainda não conseguira relaxar pensando nas compensações negativas que viriam. Preparou-se para a reunião de quinta-feira. Não poderia evitar o estresse. Foi munida de muita calma e argumento que nem precisou usar. O chefe viajara e em seu lugar um assessor passou apenas os resultados da semana elogiando a equipe e encerrando a sessão mais cedo.

A esmola é demais. Luana já olhava os rostos simpáticos com um certo medo. Pensou que estava prestes a ser demitida e que, como todos já sabiam, a tratavam bem por remorso. Nunca uma semana havia sido tão boa e produtiva. E como ainda faltava um dia, Luana resolveu tratar de torná-lo perfeito.

Vestiu sua melhor roupa, chegou mais cedo ao trabalho, cumprimentou com entusiasmo a todos os colegas. Teve ideias, trabalhou como nunca. Às 11 da manhã recebeu uma entrega: flores do ex-namorado que se desculpava pelo sumiço e admitia não tê-la esquecido. Ao meio-dia o telefonema de uma grande amiga que estava passando por perto e resolveu convidá-la para o almoço. Às 6 horas o happy hour com os colegas de trabalho. Às 8 horas uma passada pelo mercado para comprar algumas coisas para o fim de semana e, surpresa!, fora sorteada na semana anterior e sem saber era dona de um vale compras no valor de três mil reais.

Chegou em casa cansada de tanta alegria. Descalçou os sapatos, jogou as sacolas pelo chão e deitou no sofá sorrindo de espanto, olhando o teto mal conseguindo pensar. Luana, a mesma de sempre, sem nada demais, nem uma oração sequer, ganhara de presente da vida uma semana formidável. Ficou pensando em tudo que se passara naqueles dias sem acreditar, até que seus olhos se inundaram se sono e os sonhos se misturaram com a realidade...

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