terça-feira, 21 de abril de 2009

Sem você (parte 3)

Entregou a resenha com pesar. A professora, de sorriso largo, estranhou o jeito da aluna. Tentou olhar em seus olhos, mas Marina se dirigiu de cabeça baixa para sua carteira. Ficou em silencio a aula toda. Se interessou pela janela. Ouviu a música e cantou dentro de sua cabeça, baixinho, triste.


Não foi à aula seguinte. Por isso, recebeu um telefonema de Rosana.
- Marina, senti sua falta na aula hoje.
- Acordei passando muito mal, professora.
- Já está melhor?
- Já.
- Olha, estou ligando também para dizer que sua resenha recebeu nota dez. Se houvesse nota maior do que dez, ela mereceria.
- Muito obrigada, gostei muito de ter feito esse trabalho. Amei os livros.
- Que bom. Não queria que perdêssemos o contato com o final do semestre...


A música tocou de novo romântica e brega.


Marina foi às últimas aulas com novo entusiasmo. Almoçou com Rosana nesses dias. A professora contou a ela sobre sua última viagem à Europa. Falaram muito sobre como não gostavam de poesia e de música americana. Na saída, Marina percebeu que Rosana, embora não morasse longe de sua casa, nunca oferecera carona. Pensou: de repente não ia para casa, poderia trabalhar em outro lugar à tarde.


Pegou seu ônibus e foi com a música longe.


Na primeira semana de férias sentiu saudade. Quis reler os livros que ganhara de Rosana. Quis relembrar as conversas. Quis revê-la.


Na segunda semana, o telefone tocou. Rosana convidou Marina para um jantar em sua casa. “Confraternização de final de ano”. Pegou um táxi e chegou ao apartamento. Teve aquela sensação de ser a primeira a chegar. A sala vazia, mas a mesa posta. Rosana logo percebeu o estranhamento de Marina e explicou: ela era a única convidada.


Marina assumiu para si mesma que seu desejo se havia realizado.


- Marina, você sabe por que eu nunca te ofereci carona na saída da faculdade?
- Não. Achei que você tivesse outro compromisso depois da aula.
- Não. É porque é antiético que professoras se relacionem com alunas ou alunos. Mas você não é mais minha aluna.
- Mas nós continuaremos lá. Não vou fazer sua disciplina, mas você continua professora e eu aluna.
- Eu saí de lá, Marina. Consegui um outro trabalho para o ano que vem.


A música tocou.


“I can’t liiiive, if living is without you...”

Nenhum comentário: