quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

A casa do lado (parte 2)

Uma das minhas amigas, Clara, era apaixonada por velhinhos e tinha muita vontade de ir lá falar com aquela avó, pegar em sua mão, lhe presentear com biscoitos. Não sentia o mesmo medo que os outros, tinha pena. Ela sempre se perguntava se não precisavam de comida ou alimentos especiais, já que velhos costumam ficar doentes.


Durante as férias, Clara recebeu seu primo em casa. Ele logo se juntou ao curioso grupo que iam todos os dias espionar os vizinhos. Ainda sem o pavor que o resto de nós sentia, insistiu em pular o muro pra procurar o cachorro que tinha na casa, pois naquele dia os latidos não paravam e continuávamos sem ver nada.


Eu, muito medrosa, pedi que ele não fosse, e nem quis olhar quando subiu no muro e pulou para o outro lado. Meus joelhos tremiam tanto que precisei sentar no batente da varanda pra disfarçar. Menos de cinco minutos depois o menino voltou, esbaforido, com o rosto iluminado!
Ele andara em volta da casa, ninguém o notou. Foi até os fundos e tentou ver algo pela fresta da porta do quartinho. Viu muito pouco, mas com certeza não tinha cachorro. Parecia mesmo um depósito com várias caixas e prateleiras com coisas empilhadas. A aventura só serviu pra atiçar ainda mais a curiosidade das crianças e o meu pavor que nem por um momento diminuiu. Só aumentou, tanto que fiz xixi nas calças. E entrei correndo em casa, chorando de vergonha.


Soube depois por Clara que o primo entraria de novo lá à noite com grampos e arames pra tentar abrir o cadeado do depósito. Ela planejava ir junto. Tentei convencê-la a desistir, mas quanto mais eu argumentava mais ela se enchia de coragem. No fim cedi e disse a minha mãe que ela dormiria lá em casa. Assim, levantamos durante a noite e abrimos a porta para o primo dela que estava paramentado pra descobrir mais coisas essa vez.


O menino pulou o muro primeiro e eu ajudei Clara e subir. Fiquei olhando os dois darem a volta pela frente da casa. Nenhum morador apareceu. Nem cachorro. Chegaram à porta do quartinho e começaram a enfiar grampos e pedacinhos de arame retorcido até que, me dando sinal de positivo, o cadeado se abriu e os dois entraram. Demoraram pouco tempo lá dentro e eu já estava com vontade de vomitar de tanto medo. O primo de Clara veio correndo até o muro, onde eu estava, e me chamou pra ia lá ver. Era um depósito de comidas, enlatados de vários tipos, muito velhos e empoeirados. Comida de cachorro, pedaços de tecido enrolados em tábuas. Garrafas cheias e vazias. Criei coragem e pulei o muro

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