segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

A festa

Passou batom mirando-se no retrovisor. O cordão era joia, o anel, bijuteria. Ambos bonitos e combinando perfeitamente com a roupa e o penteado. Mais uma festa de sábado. Ah que maravilha, pensava Graça. Apaixonava-se pela noite e por si mesma, o champanhe estaria gelado e brilharia sob sua boca. Mas o trânsito, hein... o sofrimento de sempre, em pleno sábado à noite. Nada se comparava aos engarrafamentos das segundas-feiras, mas as ruas livres das noites de sua juventude já não havia.
Não falava de juventude com essa distância toda, afinal tinha apenas 35 anos. Se sentia na flor dos anos, uma tartaruga que apenas começava a sair por aí.
Além do trânsito, essa quantidade absurda de sinais. Pra quê, meu Deus? Só para atravancar nossa vida, pensava com pressa.
Distraída em um desses sinais atravancadores, ouviu o anúncio do assalto. Passa a bolsa, passa o relógio, passa o anel. A arma a obrigava a passar tudo. O cano chegara a tocar de leve seu braço, pois o assaltante gesticulava com ela. Foi tudo tão rápido que logo veio o alívio. O sinal abriu. Antes de sair com o carro, se olhou de novo no retrovisor. O cordão estava lá, e em seu colo, o batom. Retocou.

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