quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Choro

Ontem meu pai chorou pela primeira vez. Lembro-me bem de que ele dizia que era balela isso de homem não chorar. Que o choro era a manifestação fisiológica de nosso estado de espírito. E eu chorava, me sentia livre pra abrir o berreiro. Era uma felicidade imensa dentro da tristeza que provocava aquele choro. E quando os moleques me chamavam de maricas – quando alguém me machucava no futebol ou me ofendia na escola – eu dizia que meu pai, o maior homem da face da minha terra, dizia que todo mundo tinha direito de chorar, até os homens. Mesmo assim papai nunca chorava. Eu pensava que só podia ser porque ele era muito feliz, não tinha motivos pra ficar triste e esse era o melhor estado em que alguém podia se encontrar. Mas, ontem, a professora de geografia faltou e eu fui pra casa mais cedo. Chegue na sala e não havia ninguém, fui entrando devagar e vi, dentro do meu quarto (meu e de meus irmãos), olhei e vi, vi sentado na cama, vi meu pai, chorando abraçado a uma boneca.

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