terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Evon e suas cópias

Sábado de almoço em família era sempre a mesma delícia, uma comidinha gostosa, coca-cola, o dia todo para ver televisão e uma noite inteirinha pra dormir. Numa noite quente como os diabos, Evon adormeceu assistindo a um filme na televisão. Logo seu ronco gutural ressoou pela casa. Cada filho, em cada quarto, em cada sonho, ouvia aquele som, fossem trovoadas, ursos na floresta ou uma cachoeira. Evon, por sua vez, sonhava com trovões, ursos e cachoeiras. Numa noite de tempestade se via correndo pela floresta, entrando cada vez mais na mata fechada. Seus passos pareciam se multiplicar nas folhas molhadas quando seu desespero o derrubou em frente a um gigante urso pardo que arreganhava unhas e dentes. Apavorado, Evon conseguiu levantar-se e correr do animal, que, apesar de forte, era lento. Por entre as árvores, Evon avistou uma clareira e seguiu nessa direção, com o gigantesco urso já longe. Porém não era uma clareira, era um precipício de cachoeira com águas borrifantes. Evon caiu direto no rio e o baque de seu corpo o acordou do sonho. Mas, embora tivesse conseguido sair do pesadelo, a sensação de afogamento continuava. Evon sufocando se debateu e olhou para o lado. À sua direita outro Evon dormindo a altos roncos. Sacudiu sua cópia até acordá-la. Mas à direita dela, lá estava mais um Evon se afogando em sonho. Sacudiu, acordou, cada uma de suas cópias que se multiplicavam. Até que, incontáveis Evons depois, conseguiu sair da longa apnea em que entrara durante o sonho.

Nenhum comentário: